A mó partida no chão
no meio das cinzas pesadas,arrefecidas sobre o brasido
das coisas logradas ou perdidas.
A mó da vida parada,
em vez do pó da farinhadestroços e ossos negros
erectados para o céu azul,
dedos que apontam as riscas.
A mó da vida parou,
o ventre da terra secou, endureceu.
Um dia vamos humedecê-lo
com as lágrimas nossas.
O quê, meu amigo?
Que bárbaros andam à volta
cegos para a beleza,
surdos para o som das copas,
encobertos em cobardia?
Onde fica o espírito desta comunidade
que matou a besta faminta
em devorar toda a floresta?
Vieram com paus e enxadas,
homens, mulheres e crianças,
defender o que era deles,
o bosque sagrado que continha
o incrível cheiro da terra,
os espíritos dos antigos.
O juízo deste povo desvanece,
afogando-se como a sua aldeia,
está a cair em escombros, em pedaços
como a serra, herança pedregosa?
Mas mesmo a partir do mais negro
ascende uma fagulha da vida,
move-se no caminho debaixo da terra
e forma o caminho das águias.
Todos os verdadeiros caminhos são comuns.
A águia desassossegada
está chamar por ti, por mim:
O sagrado tem caule e tem raízes
é uma presença muda e vegetal
folhas – línguas discretas.
A sombra do silêncio a revestir
os gestos rituais dos ramos,
que são braços actuais
a receber o tempo que há-de vir.*
Bernardo e Teresa Markowsky
* Os últimas sete linhas são de Raúl Brandão
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